terça-feira, 27 de maio de 2008

Hábitos alimentares inadequados e falta de prevenção provocam cáries em bebês

Mamadeira ou leite materno durante a madrugada, assoprar comida e molhar a chupeta no açúcar são alguns dos costumes dos pais que refletem negativamente na saúde da criança nos primeiros anos de vida.
Por Scheilla Lisboa

"Se o bebê, com mais de um ano de idade, chora durante a madrugada, a primeira atitude dos pais é correr e dar a mamadeira ou amamentar no peito. Certo...? Errado. Ainda é muito forte na população alguns costumes como este que acabam por comprometer a saúde dos dentes dos bebês, gerando cáries e maus hábitos.
A consequência desta prática inadequada tem até nome: cárie tipo mamadeira, que é a cárie originada do hábito de dar leite à criança (mamadeira ou materno), durante a madrugada. "Após um ano a mamadeira ou amamentação no peito noturnas, devem ser retiradas, pois durante o dia a alimentação deve estar completa, satisfazendo as necessidades da criança", afirma a coordenadora da saúde da criança da Secretaria de Saúde de Vinhedo, Solange Salomão.
A cárie tipo mamadeira ocorre porque, à noite, existe uma diminuição da salivação e, também, a criança engole menos, o que favorece a retenção do alimento junto ao dente. Assim, a bactéria da cárie (Estreptococos mutans) encontra o ambiente propício.
A saliva é importante, pois é responsável pela lubrificação da boca e dos dentes, além de intervir significativamente no processo de geração da cárie.
Mas, não é só a alimentação que determina a cárie, outros costumes do dia a dia também interferem; cabem aos pais prestar atenção e se reeducarem. "A cárie é uma doença contagiosa, assim, o adulto, sendo portador da bactéria, deve evitar beijar a boca da criança, assoprar a comida, utilizar os mesmos talheres e copos e limpar a chupeta com a própria boca", orienta a pediatra.
Outra informação incorreta que passa de geração para geração é a imposição da chupeta a qualquer momento e de adoçá-la para a criança dormir melhor. "Estas atitudes reforçam o vício da chupeta que pode acarretar alterações dentárias, como mordida aberta e alterações de fala, além do que a presença do açúcar facilita a ação da bactéria sob o dente desenvolvendo a cárie", explica Solange, que afirma que o ideal é que se evite o uso da chupeta.
Engana-se, também, quem não dá a devida importância ao dente de leite, já que ele será substituído pelos permanentes. "A saúde do dente de leite determina a saúde do dente permanente. Se a higiene é inadequada, existe o costume do leite noturno, o uso excessivo de açúcar e a alimentação não tem uma fonte de cálcio adequada, quando surgir o dente permanente o organismo vai sofrer os mesmos riscos do dente de leite devido aos hábitos errados", explica a pediatra.
Amamentação Noturna Possibilidade de adquirir cárie
1º ano de vida - 9%
24 meses de idade - 110%
36 meses de idade - 270%
Fonte: Bebê Clínica

As cáries originadas de aleitamento materno exclusivo são menos graves que as causadas pelo uso da mamadeira e outros hábitos alimentares. Mas, a associação de aleitamento materno e mamadeira noturna, representa 80% de possibilidade de gerar cárie dentária.
Receitas
Sopinha de Abóbora com Espinafre
Creme de mandioquinha com carne
Suco de Beterraba com laranja
Papa de caldo de feijão, ovo e abobrinha
Alimentação Adequada
"Não há nenhuma restrição sobre o aleitamento materno ou a amamentação noturna quando o bebê é menor de 6 meses, ou desdentado; neste período o aleitamento deve ser irrestrito", aconselha a pediatra.
Porém, após a erupção dos primeiros dentes, este hábito noturno deve começar a ser controlado, para que o desmame ocorra por volta de 12 meses de idade, onde os dentes incisivos já nasceram e a criança inicia a fase de mastigação. A pediatra afirma que "o controle da amamentação noturna é uma das medidas mais eficazes para a prevenção de cárie na primeira infância".
Se realmente a criança reclamar de fome, durante a madrugada, após um ano de idade, a dica é "dar a mamadeira e fazer a higiene, mesmo com a criança dormindo, até que este hábito seja eliminado o mais rápido possível".
Se a criança mama no peito, este deve ser exclusivo até os 6 meses de idade. Após este período a introdução de novos alimentos é avaliada pelo ganho de peso, diminuição do intervalo de mamadas, choro, fome excessiva, intestino preso, diminuição da urina, além da motivação e necessidade da mãe em voltar ao trabalho.
Se a criança é alimentada com leite de vaca, que é uma contra indicação ao leite materno, a introdução de alimentos começa no 2º mês.
Nos primeiros meses de vida, o leite, os sucos e papas devem ser oferecidos à criança segurando-a no colo. "O momento das refeições deve ser agradável tanto para a criança como para a mãe", afirma Solange.
Os sucos, papas de frutas e as salgadas artificiais são desaconselháveis. "Estes tipos de alimentos podem desencadear quadro alérgico, além de não terem fibras e custarem caro", afirma a pediatra.

Alimentação do Bebê - Leite Materno

1 mês - Leite Materno Exclusivo (Chupeta, chá, água podem confundir o bebê e atrapalhar a amamentação)

2 meses - Leite Materno Exclusivo (Funciona como vacina, protegendo o bebê de infecções - pneumonias e diarréias).

3 meses - Leite Materno Exclusivo (é o alimento mais completo, possui todas as vitaminas e gorduras necessárias)

4 meses - Leite Materno e suco de frutas e legumes

5 meses - Leite Materno, suco de manhã, papa de frutas de tarde e gema de ovo cozida.

6 meses - Leite Materno, suco, papa de legumes no almoço e papa de frutas.

7 meses - Leite Materno, suco, papa de legumes, frutas e papa de legumes.

1 ano - Incentive a mastigação, evite amassar muito ou bater no liquidificador os alimentos.

1 ano e meio - Evite salgadinhos, bolachas, iogurtes fora do horário das refeições.
Introdução de novos alimentos
- deve ser feita sempre de forma gradual;
- oferecer um a um os novos alimentos, com intervalos semanais;
- observar alteração no hábito intestinal, presença de cólicas, dermatites ou manifestações de caráter alérgico;
- na presença de alguma intolerância ao novo alimento, suspender temporariamente e voltar a oferecê-lo após algumas semanas em quantidade menor;
Suco de frutas - Para crianças que mamam no peito o suco de frutas deve ser introduzido entre 4 e 6 meses e no 3º mês para as que mamam na mamadeira. "Não se deve adicionar açúcar no suco e ele deve ser dado ao bebê logo após ser feito, para evitar a perda de vitamina C; no frio, não se deve aquecer o suco, também por causa da vitamina C", ressalta a pediatra.
Gema de ovo - Quando se introduz qualquer outro tipo de alimento na dieta de uma criança amamentada ao seio, há diminuição da absorção do ferro da dieta. Tanto o leite materno como o leite de vaca contém pouco ferro; mas, o aproveitamento do ferro do leite materno é alto, 50%.
Assim, recomenda-se dar alimentos ricos em ferro mais precocemente às crianças em aleitamento artificial ou misto (4 a 5meses). "A introdução da gema de ovo em pequenas quantidades é recomendada para aumentar a oferta de ferro, gordura e proteínas", explica a pediatra. A gema deve ser servida sempre muito bem cozida e pode ser dada com pequena quantidade de sucos ricos em vitamina C, antes da mamada ou da refeição de sal.
Refeições de sal - A sopa tem maior importância como fonte de ferro, sais minerais e fibras, assim, deve conter carne - magra, de vaca ou frango - verduras, cereais e leguminosas. "As carnes de segunda como músculo e coração têm o mesmo teor protéico que as carnes de primeira", sugere a pediatra.
A sopa deve ser peneirada e não batida no liquidificador, pois "além de conservar as fibras, ainda facilita a aceitação de alimentos cada vez mais consistentes" . Quando a sopa é recusada as dicas são: aumentar o intervalo anterior, diminuir o teor de sal, usar hortaliças adocicadas e de sabor pouco acentuado ou, ainda, adicionar pequena quantidade de leite.
Outras introduções
por volta dos 7 meses:
- com o surgimento dos primeiros dentes e a capacidade da criança de permanecer sentada e pegar os alimentos e levá-los à boca, as refeições devem ser feitas com a criança sentada em cadeirinhas apropriadas;
- alimentos sólidos em pedaços para a criança comer sozinha: pão amolecido; bolachas; frutas, carne cozida ou bife.
- queijo branco, ricota, queijo minas e requeijão.
aos 9 meses:
- oferecer líquidos em canecas ou copos com bordas grossas e, de preferência com tampa; copos com canudinho. Iniciar retirada gradual da mamadeira.
aos 10 meses:
- clara de ovo
após primeiro ano de vida:
- frutos do mar, morango e abacaxi
Para estimular a criança a comer melhor
- cardápios coloridos
- alimentos preferidos pela criança
- explicar a importância da alimentação
- variar o modo de preparo dos alimentos
- insistir com as novidades
Limpeza e escovação
"O cuidado com os dentes deve começar mesmo antes do bebê nascer. Como a escovação é uma questão educacional é interessante que a gestante, vá ao dentista durante a gravidez, cuide dos dentes e receba orientação de como proceder com o bebê", sugere o cirurgião dentista Lauro Delgado Junior. Vale ressaltar que a criança segue o exemplo da família, incorporando os hábitos adequados ou não.
De acordo com as normas da American Dental Association (ADA, 1981), a limpeza do dente pode começar antes da erupção. Esta medida além de tornar a gengiva mais limpa, ainda acostuma o bebê à manipulação da boca.
"A limpeza deve ser feita com gaze e água para retirar o excesso de leite", explica o cirugião dentista. A limpeza começa efetivamente com o surgimento dos primeiros dentes, dando especial atenção, à noite, após a última mamada. "Quando aparece o primeiro dente, usa-se gaze com um pouco de água oxigenada de 10 volumes", ensina Delgado. Outra opção é a escova própria para o bebê, que o adulto adapta no dedo, semelhante a uma dedeira de silicone.
Essa limpeza deve seguir até os 18 meses, ou até quando os primeiros molares aparecerem, quando deve-se iniciar a escovação. Porém, desta idade até cerca de 6 anos, a criança não tem coordenação motora para realizar uma higiene bucal eficiente, necessitando da ajuda de um adulto.
"A criança deve ser estimulada a criar o hábito de escovar o dente e passar o fio dental sempre após as refeições", afirma o dentista. "Existem muitas escovas de bichinho e coloridas, além de pastas especiais, com diversos gostos que ajudam os pais a incentivarem a escovação", conclui Delgado."
Fonte: Pediatria na atenção primária (Hugo Issler, Cláudio Leone, Eduardo Marcondes
Livro: Odontologia para Bebês
Autor: Luiz Reinaldo Figueiredo Walter (Universidade Federal de Londrina)

O que são Cáries de Mamadeira?

"O melhor tratamento para as cáries de mamadeira é a prevenção, tendo em vista a dificuldade de tratar crianças em idades inferiores a 4 anos.
A prevenção deve ser feita através da higienização da boca da criança desde o nascimento do primeiro dentinho. A higienização deve ser feita com o uso de gazes (preferencialmente estéreis) e água (filtrada ou mineral).
Toda hora após a amamentação deve-se fazer a limpeza da boca da criança com a gaze úmida. O acompanhamento pelo dentista pediatra também ajuda a prevenir tais patologias , e este deve ser feito o mais cedo o possível.
Após a cárie de mamadeira ter se instalado, ela geralmente apresenta um curso acelerado e doloroso para a criança.
Esta rapidez com que este tipo de cárie se instala e progride é resultado da não higienização da boca da criança e do surgimento dos primeiros dentes, que acabam alterando física, química e bioquimicamente o meio bucal.
Com o surgimento dos dentes as bactérias que têm capacidade de aderência ao esmalte dental, começam a proliferar; a mudança dos microorganismos presentes na cavidade oral e a maior dificuldade de limpeza por parte dos mecanismos naturais de limpeza (língua, saliva, etc) devido a erupção dos dentes; e outros fatores levam a uma série de reações (dentre elas mudança do PH oral), que contribuem para que esta doença se manifeste de forma tão agressiva.
Os mecanismos desta doença são complexos, mais o importante é saber o que foi escrito. Com relação ao tratamento, realmente existe e tem que ser feito o quanto antes , para alívio do sofrimento da criança, antes que esta comece a emagrecer, desanimar, chorar ( sem motivo aparente), etc..
O primeiro passo é procurar um dentista (odontopediatra, generalista que esteja habituado a lidar com crianças) ou uma faculdade mais próxima.
Depois o dentista vai examinar o caso e se constatado que se trata realmente desta patologia, ele dará seqüência com o procedimento mais adequada, que pode variar da adequação do meio e posterior restauração (diminuindo a carga de contaminantes, aumentando o PH intra-oral, tirando a criança da fase aguda da doença, diminuindo a sensibilidade dolorosa, etc.), esta etapa é feita através da aplicação de substâncias como flúor, clorexidina e outras e da restauração provisória dos dentes com material do tipo ionômero de vidro (pela sua facilidade de execução e capacidade de receber recarga e liberar flúor).
O tratamento é complexo e demorado, no entanto a parte mais difícil é com relação à própria criança (que geralmente não colabora, devido à idade) e à sintomatologia que a criança esta passando, pois se é difícil para o dentista fazer o tratamento em uma criança saudável, imagine em uma criança que está com dor.
Por isso devemos procurar um bom profissional, que esteja qualificado para dar seqüência ao tratamento. Em casos extremos de não aceitação por parte da criança, podemos levá-la a um centro cirúrgico e fazermos o tratamento sob anestesia geral.
O primeiro passo é ficarmos calmos e levarmos a criança o mais rápido possível para o dentista. Pois a demora pode levar a criança a quadro de abcessos e infecções graves que podem levar o paciente a óbito, se não corretamente tratados."
Não é para assustar, porém com cárie e outros quadros infecciosos não se brinca.
Marcelo Silva Monnazzi é Cirurgião Dentista graduado pela Universidade Sagrado Coração - Bauru - SP. Residente na área de cirurgia buco-maxilo facial pela Unesp Araraquara.