Mamadeira ou leite materno durante a madrugada, assoprar comida e molhar a chupeta no açúcar são alguns dos costumes dos pais que refletem negativamente na saúde da criança nos primeiros anos de vida. Por Scheilla Lisboa
"Se o bebê, com mais de um ano de idade, chora durante a madrugada, a primeira atitude dos pais é correr e dar a mamadeira ou amamentar no peito. Certo...? Errado. Ainda é muito forte na população alguns costumes como este que acabam por comprometer a saúde dos dentes dos bebês, gerando cáries e maus hábitos.
A consequência desta prática inadequada tem até nome: cárie tipo mamadeira, que é a cárie originada do hábito de dar leite à criança (mamadeira ou materno), durante a madrugada. "Após um ano a mamadeira ou amamentação no peito noturnas, devem ser retiradas, pois durante o dia a alimentação deve estar completa, satisfazendo as necessidades da criança", afirma a coordenadora da saúde da criança da Secretaria de Saúde de Vinhedo, Solange Salomão.
A cárie tipo mamadeira ocorre porque, à noite, existe uma diminuição da salivação e, também, a criança engole menos, o que favorece a retenção do alimento junto ao dente. Assim, a bactéria da cárie (Estreptococos mutans) encontra o ambiente propício.
A saliva é importante, pois é responsável pela lubrificação da boca e dos dentes, além de intervir significativamente no processo de geração da cárie.
Mas, não é só a alimentação que determina a cárie, outros costumes do dia a dia também interferem; cabem aos pais prestar atenção e se reeducarem. "A cárie é uma doença contagiosa, assim, o adulto, sendo portador da bactéria, deve evitar beijar a boca da criança, assoprar a comida, utilizar os mesmos talheres e copos e limpar a chupeta com a própria boca", orienta a pediatra.
Outra informação incorreta que passa de geração para geração é a imposição da chupeta a qualquer momento e de adoçá-la para a criança dormir melhor. "Estas atitudes reforçam o vício da chupeta que pode acarretar alterações dentárias, como mordida aberta e alterações de fala, além do que a presença do açúcar facilita a ação da bactéria sob o dente desenvolvendo a cárie", explica Solange, que afirma que o
ideal é que se evite o uso da chupeta.
Engana-se, também, quem não dá a devida
importância ao dente de leite, já que ele será substituído pelos permanentes. "A saúde do dente de leite determina a saúde do dente permanente. Se a higiene é inadequada, existe o
costume do leite noturno, o uso excessivo de açúcar e a alimentação não tem uma fonte de cálcio adequada, quando surgir o dente permanente o organismo vai sofrer os mesmos riscos do dente de leite devido aos hábitos errados", explica a pediatra.
Amamentação Noturna Possibilidade de adquirir cárie
1º ano de vida - 9%
24 meses de idade - 110%
36 meses de idade - 270%
Fonte: Bebê Clínica
As cáries originadas de aleitamento materno exclusivo são menos graves que as causadas pelo uso da mamadeira e outros hábitos alimentares. Mas, a associação de aleitamento materno e mamadeira noturna, representa 80% de possibilidade de gerar cárie dentária.
Receitas
Sopinha de Abóbora com Espinafre
Creme de mandioquinha com carne
Suco de Beterraba com laranja
Papa de caldo de feijão, ovo e abobrinha
Alimentação Adequada
"Não há nenhuma restrição sobre o aleitamento materno ou a amamentação noturna quando o bebê é menor de 6 meses, ou desdentado; neste período o aleitamento deve ser irrestrito", aconselha a pediatra.
Porém, após a erupção dos primeiros dentes, este hábito noturno deve começar a ser controlado, para que o desmame ocorra por volta de 12 meses de idade, onde os dentes incisivos já nasceram e a criança inicia a fase de mastigação. A pediatra afirma que "o controle da amamentação noturna é uma das medidas mais eficazes para a prevenção de cárie na primeira infância".
Se realmente a criança reclamar de fome, durante a madrugada, após um ano de idade, a dica é "dar a mamadeira e fazer a higiene, mesmo com a criança dormindo, até que este hábito seja eliminado o mais rápido possível".
Se a criança mama no peito, este deve ser exclusivo até os 6 meses de idade. Após este período a introdução de novos alimentos é avaliada pelo ganho de peso, diminuição do intervalo de mamadas, choro, fome excessiva, intestino preso, diminuição da urina, além da motivação e necessidade da mãe em voltar ao trabalho.
Se a criança é alimentada com leite de vaca, que é uma contra indicação ao leite materno, a introdução de alimentos começa no 2º mês.
Nos primeiros meses de vida, o leite, os sucos e papas devem ser oferecidos à criança segurando-a no colo. "O momento das refeições deve ser agradável tanto para a criança como para a mãe", afirma Solange.
Os sucos, papas de frutas e as salgadas artificiais são desaconselháveis. "Estes tipos de alimentos podem desencadear quadro alérgico, além de não terem fibras e custarem caro", afirma a pediatra.
Alimentação do Bebê - Leite Materno
1 mês - Leite Materno Exclusivo (Chupeta, chá, água podem confundir o bebê e atrapalhar a amamentação)
2 meses - Leite Materno Exclusivo (Funciona como vacina, protegendo o bebê de infecções - pneumonias e diarréias).
3 meses - Leite Materno Exclusivo (é o alimento mais completo, possui todas as vitaminas e gorduras necessárias)
4 meses - Leite Materno e suco de frutas e legumes
5 meses - Leite Materno, suco de manhã, papa de frutas de tarde e gema de ovo cozida.
6 meses - Leite Materno, suco, papa de legumes no almoço e papa de frutas.
7 meses - Leite Materno, suco, papa de legumes, frutas e papa de legumes.
1 ano - Incentive a mastigação, evite amassar muito ou bater no liquidificador os alimentos.
1 ano e meio - Evite salgadinhos, bolachas, iogurtes fora do horário das refeições.
Introdução de novos alimentos
- deve ser feita sempre de forma gradual;
- oferecer um a um os novos alimentos, com intervalos semanais;
- observar alteração no hábito intestinal, presença de cólicas, dermatites ou manifestações de caráter alérgico;
- na presença de alguma intolerância ao novo alimento, suspender temporariamente e voltar a oferecê-lo após algumas semanas em quantidade menor;
Suco de frutas - Para crianças que mamam no peito o suco de frutas deve ser introduzido entre 4 e 6 meses e no 3º mês para as que mamam na mamadeira. "Não se deve adicionar açúcar no suco e ele deve ser dado ao bebê logo após ser feito, para evitar a perda de vitamina C; no frio, não se deve aquecer o suco, também por causa da vitamina C", ressalta a pediatra.
Gema de ovo - Quando se introduz qualquer outro tipo de alimento na dieta de uma criança amamentada ao seio, há diminuição da absorção do ferro da dieta. Tanto o leite materno como o leite de vaca contém pouco ferro; mas, o aproveitamento do ferro do leite materno é alto, 50%.
Assim, recomenda-se dar alimentos ricos em ferro mais precocemente às crianças em aleitamento artificial ou misto (4 a 5meses). "A introdução da gema de ovo em pequenas quantidades é recomendada para aumentar a oferta de ferro, gordura e proteínas", explica a pediatra. A gema deve ser servida sempre muito bem cozida e pode ser dada com pequena quantidade de sucos ricos em vitamina C, antes da mamada ou da refeição de sal.
Refeições de sal - A sopa tem maior importância como fonte de ferro, sais minerais e fibras, assim, deve conter carne - magra, de vaca ou frango - verduras, cereais e leguminosas. "As carnes de segunda como músculo e coração têm o mesmo teor protéico que as carnes de primeira", sugere a pediatra.
A sopa deve ser peneirada e não batida no liquidificador, pois "além de conservar as fibras, ainda facilita a aceitação de alimentos cada vez mais consistentes" . Quando a sopa é recusada as dicas são: aumentar o intervalo anterior, diminuir o teor de sal, usar hortaliças adocicadas e de sabor pouco acentuado ou, ainda, adicionar pequena quantidade de leite.
Outras introduções
por volta dos 7 meses:
- com o surgimento dos primeiros dentes e a capacidade da criança de permanecer sentada e pegar os alimentos e levá-los à boca, as refeições devem ser feitas com a criança sentada em cadeirinhas apropriadas;
- alimentos sólidos em pedaços para a criança comer sozinha: pão amolecido; bolachas; frutas, carne cozida ou bife.
- queijo branco, ricota, queijo minas e requeijão.
aos 9 meses:
- oferecer líquidos em canecas ou copos com bordas grossas e, de preferência com tampa; copos com canudinho. Iniciar retirada gradual da mamadeira.
aos 10 meses:
- clara de ovo
após primeiro ano de vida:
- frutos do mar, morango e abacaxi
Para estimular a criança a comer melhor
- cardápios coloridos
- alimentos preferidos pela criança
- explicar a importância da alimentação
- variar o modo de preparo dos alimentos
- insistir com as novidades
Limpeza e escovação
"O cuidado com os dentes deve começar mesmo antes do bebê nascer. Como a escovação é uma questão educacional é interessante que a gestante, vá ao dentista durante a gravidez, cuide dos dentes e receba orientação de como proceder com o bebê", sugere o cirurgião dentista Lauro Delgado Junior. Vale ressaltar que a criança segue o exemplo da família, incorporando os hábitos adequados ou não.
De acordo com as normas da American Dental Association (ADA, 1981), a limpeza do dente pode começar antes da erupção. Esta medida além de tornar a gengiva mais limpa, ainda acostuma o bebê à manipulação da boca.
"A limpeza deve ser feita com gaze e água para retirar o excesso de leite", explica o cirugião dentista. A limpeza começa efetivamente com o surgimento dos primeiros dentes, dando especial atenção, à noite, após a última mamada. "Quando aparece o primeiro dente, usa-se gaze com um pouco de água oxigenada de 10 volumes", ensina Delgado. Outra opção é a escova própria para o bebê, que o adulto adapta no dedo, semelhante a uma dedeira de silicone.
Essa limpeza deve seguir até os 18 meses, ou até quando os primeiros molares aparecerem, quando deve-se iniciar a escovação. Porém, desta idade até cerca de 6 anos, a criança não tem coordenação motora para realizar uma higiene bucal eficiente, necessitando da ajuda de um adulto.
"A criança deve ser estimulada a criar o hábito de escovar o dente e passar o fio dental sempre após as refeições", afirma o dentista. "Existem muitas escovas de bichinho e coloridas, além de pastas especiais, com diversos gostos que ajudam os pais a incentivarem a escovação", conclui Delgado."
Fonte: Pediatria na atenção primária (Hugo Issler, Cláudio Leone, Eduardo Marcondes
Livro: Odontologia para Bebês
Autor: Luiz Reinaldo Figueiredo Walter (Universidade Federal de Londrina)